Onze Cantos


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Onze Cantos

Noturno

Venha comigo agora

Eu conheço de verdade

A pulsação desta cidade

Quando é hora

Está certo é tarde

Eu nem sei

Se a gente ainda vai pegar aberto

O Bar OK

Era uma boa beijar sua boca

Por perto da praça

Andar à toa

Furar a garoa

E decerto fazer uma graça

Sobre as barbas de Fidel

Ou então comentar sobre o céu

Clareando a linha do alto da serra

Como no fim de um filme de guerra

Chegar bem cansado ao mercado

Enfim ao mercado

E pedir um sonho

Com muito café requentado

Que é bom pra sonhar é bom pra sonhar

É bom pra sonhar acordado
Veracidade

Se você quer ver a cidade

Precisa conhecer

O que eu bebo no sebo dos bares

O que eu quero no lero dos pares

O que se enrola se rala e se embola em cada cachola

É veracidade

O que se engrola e se caraminhola e se baba na gola

É ver a cidade


O que exala consola e abala desola e resvala

É ver a cidade

O que estala esfola e apunhala viola e encurrala

É ver a cidade.


A portinhola de todas as bocas é uma castanhola

A corriola pastando e bebendo na vasta gaiola

Menina de escola cantora espanhola e um rapazola

Senhora de gala e sua vassala e um que não fala

Pastando e bebendo na mesma senzala

Na mesma gaiola na mesma gaiola na mesma


É pelas bocas que a gente fala

O que se cala no meio da rua

É pelas bocas que se desentala

Num grande porre a verdade crua


Se você quer ver a cidade

Precisa conhecer

O que eu bebo no sebo dos bares

O que eu quero no lero dos pares


Quatro Tempos

No arvoredo

Um alarido clareando o dia

Aquecia a rua com blusas de lã

Então se conhecia a voz

A voz dos habitantes de cada manhã



Meio-dia havia um tigre solto na calçada

E cada homem adormecia nos olhos

Nos olhos nos olhos da mulher amada



Tarde o sol agonizando

Sumiu nos dentes de um dragão

E todos se reconheceram no espelho

No espelho da televisão



Meia-noite a rua é um rio denso

Rio denso

Bebendo bebendo a lua
Beguine do Mercado

teu rosto rouge o mercado

ligas luzes caminhão

intrigas sono fadigas pecado

brigas uísque esperas pão

o preço a corda a cidade

comes & bebes o freguês

corpos mentes a idade

risos falas japonês

nabos em sacos aventureiros

ternos goiabas sabra diós

capas ovos marinheiros

uvas passas pó-de-arroz

danças e tranças boleros

verduras sonho jasmins

legumes plantas lembranças

estrelas eras maxim’s
Meia-Porta

Noite morta meia-porta no último bar 

As cadeiras de um fundo de mundo 

Virado de pernas pro ar 

 

Engolindo a aurora  

A lata de lixo do lado de fora 

É um bicho acordando  

Com fome das sobras 

Que a gente não come  

Ou espalha com a mão 

 

Por todos os lados aos cacos 

Palavras e copos quebrados 

Por fortes e fracos tão fartos 

Bilhetes rasgados  

Pisadas as coisas de amor 

De raiva ou desejo 

 

Um beijo vermelho sobre um guardanapo 

Um resto de papo na pele do espelho 

E toda a verdade do lixo  

Que o bicho haverá de engolir 

 

As vassouras são poucas  

Pras coisas tão loucas 

Perdidas no chão 

Perdidas no chão 

Balaio Cheio
A caixa do pensamento é um balaio cheio ai

Ai se batesse um vento

Ai se caísse um raio

E partisse o balaio no meio

Todo mundo podia se lambuzar no meu recheio ai

Na hora do recreio

Na hora do recreio agora não

Que tudo tá ruço

Que meu coração tá com soluço ai

Que tudo tá ruço

Que meu coração tá com soluço ai

Como um rato na boca de um gato na boca de um cão

Como um fato na boca de um ato na boca de um não

Mais perigoso que viver é pensar

Mais perigoso que pensar é dizer

Mais perigoso que dizer é cantar uma canção

Como um rato na boca de um gato na boca de um cão

Como um fato na boca de um ato na boca de um não
Rockoisa
Cê tá sacando de que coisa eu trato

Cê tá sacando qualquer coisa eu faço

E traço e mato

Pra me pirar daqui

Pra me picar daqui

Eu só quero ir por aí

Ser tri-feliz no meu país do xis

Xissalada punk rock milk shake

Discotheque hot dog sundae skate

Marshmellow Harley Davidson mini tape



De tudo o que importa o meu país

Só me importa o que me faz

Curtir feliz

E me picar daqui

E me pirar daqui

Eu só quero ir por aí

Ser tri-feliz no meu país do xis

Xissalada punk rock milk shake

Discotheque hot dog sundae skate

Marshmellow Harley Davidson mini tape

Anúncio Classificado
Precisa-se de criança

Que tenha cara de anjo sujo

De geleia de uva

Que se possa limpar em noites de chuva

Quando o céu despenca aos borbotões

E se adormece só

Entre agulhas e botões

Se oferece um enxoval completo

Meu filho meu tesouro

Muito afeto

E dez belas cantigas de ninar

E dez belas cantigas de ninar

As interessadas deverão procurar com brevidade

O cesto vazio sobre o capacho

No endereço abaixo

No endereço abaixo

Fim de Fevereiro
No fundo da noite no fim de fevereiro

Um surdo a brincar de arlequim é brincadeira

No fundo da noite no fim de fevereiro

Um surdo a brincar de arlequim é brincadeira

Primeiro pintou um sorriso na cara que já não sabia

Sorrir simplesmente um sorriso que fosse de pura alegria

Vestiu o disfarce de guizo agonia mentira e cetim

E levou pra avenida os losangos doídos do seu arlequim

Bateu

Bateu a até o sol da quarta-feira raiar

Dançou ouvindo a turma da cadeira cantar

Águas Claras
Até as águas claras

As águas raras

Até a verdade

Que esse rio já sofreu a tempestade

E como o seu venceu a noite negra

Veja os cigarros e a cerveja

As histórias veja as comportas

Folhas mortas linhas tortas

Águas curvas turvas os sinais

O que mais quero é saber ser o espelho

Em que você se olhe se veja e se molhe

E beba até que me veja

Aprenda a me viver depois me ame

Aprenda a ser você depois me seja

Até um dia

Até as águas claras

As águas raras até amanhã

Motivo
Na cabeça dança

Mais uma canção

Num instante a cabeça dança

Mais uma canção

Há cabeça há dança

Mais uma canção

Viola mais que companheira

Arde na fogueira do meu coração

Viola mais que companheira

Arde na fogueira do meu coração

É flor é fel

Anzol que fere a garganta

Se canto pra espantar o mal

Por Deus que tanto mal me espanta

Canta canta canta

Tanto mal pra se espantar

Canta

Canta canta canta

Laraiá laraiarará

Ficha Técnica

Músicos participantes



1. Hélio Santana – bateria

2. Paulo Vitola – voz e coro

3. Fernando Montanari – piano acústico e piano rhodes

4. Tatá – trompete

5. Paulo Vitola e Marinho Gallera – voz

6. Maurici Ramos – bateria

7. Sy Barreto – baixo e Paulo Teixeira – guitarra

8. Sy Barreto– baixo

9. Paulo Chaves, Paulo Teixeira, Paulo Vitola, Reinaldo Godinho e Marinho Gallera – coro

10. Carlos Freitas – bateria

11. Marinho Gallera – voz e violão

12. Reinaldo Godinho – coro

13. Milton Ribeiro – piano rhodes e teclados

14. Orlando Comandulli – sax e Tatá – trompete

15. José Antônio Boldrini – baixo

16. Carlos Freitas – técnica de gravação

17. Mattos – bateria e Heney Souza Jr. – guitarra

18. Paulo Chaves – coro

Direção Musical – Marinho Gallera

Mixagem – Carlos Freitas

Arregimentação – Marinho Gallera e Reinaldo Godinho

Capa – Múltipla Propaganda & Pesquisa

Fotos – Zap Fotografias

Direção de Produção – Paulo Vitola

Gravado de 20 a 26 de novembro de 1979, em Curitiba, no Sir Laboratório de Som e Imagem.