Com todos esses ingredientes, não deu outra: concorrendo na categoria “brinde de final de ano”, o LP ganhou medalha de ouro no Prêmio Colunistas Nacional e um caminhão de bons comentários na imprensa e entre o público presenteado.
Quem não havia recebido o presente, ligava para a agência perguntando se o disco estava à venda, onde podia ser encontrado, enfim, os Onze Cantos tornaram-se objeto de desejo.
Como Vitola e Gallera tinham realizado o trabalho em troca de algumas centenas de LPs, resolveram colocar o seu reparte à venda na Livraria Ghignone e numa loja da Brunetti Discos. Para dar uma força nas vendas, a Múltipla criou e publicou o anúncio de lançamento que você vê acima.
Na música popular curitibana (abram alas, über alles!), a parceria de Vitola e Marinho sucedeu como um acorde perfeito maior, maravilha qualquer, misteriosamente, feito todas as parcerias nesse velho mundo novo desparceirado.
Vitola: homem de texto como poucos, poeta desde sempre, também músico e compositor solitário, com um passado sonoro de muitas canções, afeito ao comércio com os grandes mestres da poesia e da música popular brasileira. Drummond, Cartola, João Cabral, Elton Medeiros, Manuel Bandeira, Chico Buarque, Vinicius de Moraes, João Gilberto, Mário Quintana, tutti buona gente.
Marinho: tinha que ser do interior de São Paulo, terra de violeiros, rica de substância musical popular, sofisticando seus traços de origem, numa síntese, em seis ou doze cordas, de todas as vibrações que atravessam nosso campo acústico.
A dupla foi uma das almas do MAPA, Movimento Atuação Paiol, série de shows-mutirão, no Teatro Paiol, saque de Vitola, que roteirizou, dirigiu e animou os dois primeiros MAPA (eu fiz o roteiro do terceiro e último show, quando Vitola, em 75, foi para o Rio numa entrada & bandeira). Os shows do MAPA arrebanharam os mais notórios compositores populares da cidade, no intento de “colocar a música popular curitibana e paranaense no mapa do Brasil”. Se conseguiu ou vai conseguir, ainda é cedo para dizer. Não tem dúvida que uma porção de coisa nasceu com os MAPA, principalmente uma identidade e uma consciência própria nos participantes e nalgum público, principalmente, o pique de prosseguir em muitos dos mapeadores (ou mapeados?).
O percurso de Vitola e Marinho, a essas alturas, já não se distingue da batalha por um lugar ao sol para o som e a voz deste sul temperado, imigrante e elétrico, caboclo e industrial, em busca do seu rosto, seu caráter próprio e seu cantar, o rosto e cantar do Paralelo 24, onde Vitola, numa canção, descobriu sua terra.
Espaço de Vitola, tempo de Marinho. Este disco.
O LP “Onze Cantos” foi produzido pela Múltipla Propaganda e Pesquisa, a partir de uma ideia do seu então diretor de criação, Jamil Snege, para ser distribuído como presente de final de ano para os clientes e amigos da agência.